Porque, às vezes, é preciso se reportar a pedaços de um passado saudoso para podermos construir um futuro digno, onde os erros cometidos outrora sejam os alicerces para nossas vitórias e aprendizados...
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Vende-se
“Vende-se”. Era o que estava escrito na placa de boas vindas pregada na porta de minha antiga casa. Passei 15 anos longes, estudando e trabalhando. Não há nada melhor do que, depois de tanto tempo, se sentir em casa. Eu estava extasiado. Meu coração passou a viajem toda pulsando de alegria. Aquele simples escrito foi um balde de água fria no meu entusiasmo. Mesmo após todos esses anos morando fora, não posso deixar de me sentir em casa quando olho aquele conjunto de lembranças materializadas.
As portas e janelas convidam-me a entrar e eu aceito o convite – afinal foi para isso que voltei. Para cada canto que olho memórias surgem. O cheiro de nostalgia inundava meus sentidos. Sentia aquele emaranhado de tijolo e concreto falar comigo. Pelos cômodos da casa, apareciam lembranças quase vivas. Vi-me, quando menino, passar correndo quase me atropelando, depois vi meu irmão que corria atrás de mim porque eu tinha quebrado seu carrinho. Vi-me também deitado em minha cama de beliche olhando para o teto, eletrizado pela primeira paixão.
Tocando as paredes eu podia ouvir os sons de minha infância. Ouvia todos os risos, os choros, os gritos, as piadas, tudo. Quando cheguei à cozinha vi minha mãe fazendo meu bolo preferido e eu, ansioso, esperando sentado na bancada, provavelmente eu atacaria-o antes que ele esfriasse. Mamãe tinha o rosto sereno como sempre, ria-se das piadas que eu contava – eu tinha o dom de fazer as pessoas rirem, lamento tê-lo perdido. Não resisti e tentei abraçá-la, mas como fumaça ela se dissipou. Nesse momento vi meu pai que acabara de chegar em casa, assim como antes não me contive e tentei abraçá-lo, mas também o vi desaparecer. A essa altura as lagrimas já rolavam e seria inútil tentar conte-las.
Parece que o choro bloqueou a fantasia e me fez ver a realidade como de fato era: uma casa vazia de moveis, porém cheia de recordações. Ao sair da casa, parei novamente à sua frente, a imagem daquela velha construção era hipnotizante para mim. Li mais uma vez a placa que com poucas letras se desfazia de muitos momentos que me tiraram o fôlego e a voz.
Porem não importa se vão ou não vender a casa. Vigas, massa, tijolos, cimento, tudo isso pode ser vendido, mas a infância que aquela velharia conserva, não há dinheiro que pague nem vida que esqueça.
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2 comentários:
já li esse *-*
eu acho que posso reconhecer essas palavras, esse quadro. tirando, é claro, a placa de vende-se. afinal de contas, eu pretendo voltar pro canto que é meu qualquer dia.
Ahh, gostei muito!
bem legal! ^^.
BJinhuss
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