terça-feira, 27 de abril de 2010

Menos um...


E naquele dia quando ele acordou, sua mente estava vazia, seu coração parado, sua pele fria e seu corpo inerte. Tentou se levantar, mas nenhum músculo se mexeu. Ele então permaneceu ali, deitado, tentando organizar os flashes de memória que brilhavam na sua frente. Não conseguia fixar o pensamento em nada, queria voltar a dormir e só acordar no dia seguinte. Ele já sabia como hoje seria. Ele iria se levantar, tomar seu banho demorado, tomar seu café da manhã sentado na mureta da varanda com os pés para o alto, depois viria alguém lhe cumprimentar perguntando como foi a noite, ele mentiria dizendo que dormiu bem. Acabado o café ele poria seu copo na cozinha e voltaria à varanda. Ficaria ali até alguém chamar (o que certamente aconteceria). Quando chamassem seria para pedir algo que ele não teria a mínima vontade de fazer, mas que, por pura educação, faria com um largo sorriso na face desanimada. E o dia iria se prolongando dessa forma: atividades entediantes com curtíssimos momentos de relaxamento em que ele esvaziaria sua mente de tudo o que há nesse mundo. Por isso enrolaria para levantar o quanto desse. Tentou dormir torcendo pra que assim ninguém o perturbasse tão cedo, foi inútil. O sono já tinha acabado por completo. Tentou se prender a alguma fagulha de pensamento. Descartou os tristes, o dia por si só já o faria lembrar-se de alguns deles. Procurou os alegres, porem, por alguma razão, estes também soaram tristes. Mas se satisfez com eles. Lembrou os anos passados, lembrou dos amigos que não via há muito tempo, lembrou dos momentos que passou com o amor de sua vida e, conseqüentemente, do fim do romance. Por algum motivo ele esboçou um sorriso ao lembrar-se dela dando adeus. E lá se foram seus pensamentos, vagando no passado, adivinhando o presente e sonhando com o futuro. Ele até que estava gostando da sensação. Entretanto, como o que é bom acaba cedo, ele ouviu passos vindos em direção à porta do seu quarto, já sabia o que era, tinha certeza, mas rezou para que estivesse enganado. Ouviu mãos na maçaneta, quis muito que a porta estivesse trancada por dentro, assim ele poderia fingir que dormia e evitar toda a situação que estava para acontecer. Ouviu os rangidos das dobradiças de bronze que estavam um pouco emperradas por causa do peso da velha porta de madeira maciça. Como estava de costas para a porta olhando para a parede que ficava a no máximo um palmo do seu nariz, pode apenas ficar imóvel. Quem sabe assim eles não desistissem de fazer o que estavam planejando. Mas foi em vão. Começou a maldita cantoria que ele tanto quis não ter que ouvir. As palmas descompassadas acompanhavam a melodia, que aos seus ouvidos soavam como canções fúnebres. Não que ele não gostasse daquela data, não que ele ficasse chateado pela família fazer aquilo, ele só preferia que o ano não tivesse passado tão rápido. Era indiscutível que não dava mais para fingir, ele então virou o rosto para a porta como se estivesse acabado de despertar e viu aquela lastimável cena. O olhar dele era dissimulado. Olhava toda aquela alegria com frieza, com preguiça, com desanimo. Mas ninguém percebeu, todos estavam felizes. Todos menos ele. E a cantoria continuava. Ele decidiu abreviar o tormento e se levantou, abraçou todos, fez algumas piadas, pegou o bolo e pediu para que todos fossem para a sala que ele iria cortá-lo. Todos viraram as costas e começaram a sair do aposento. Ele leu o escrito do bolo que dizia “Feliz Aniversário” e disse: “Menos um ano...”.

sábado, 24 de abril de 2010

Silêncio


Estou só.
E essa sensação é tão incrível,
Tão mágica.
Mas esse é um momento raro,
Um momento onde a casa dorme
E ninguém, alem de mim,
Pode quebrar o maravilhoso silencio que reina.
É o começo do dia
O céu ainda esta em breu,
E não é que eu não esteja com sono,
Mas quero aproveitar ao máximo essa paz.
Caminho pela escuridão dos cômodos,
De olhos fechados contemplo a falta de sons.
Passei o dia esperando esse sentimento:
Estar sozinho com a noite.
Passei o dia sozinho,
Andando com um monte de gente,
Falando, rindo, me divertindo.
Porem essa é a melhor parte do dia,
Estou feliz
Por estar só.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Se quiser


Se quiser ser feliz,
Permita-se à felicidade;
Se quiser ter os sonhos transformados em realidade,
Primeiro você tem que sonhar;
Se quiser ser amada por alguém,
Comece amando a si mesma;
Se quiser amar alguém,
Esteja preparada para risos e lagrimas;
Se deseja viajar nas estrelas,
Comece olhando para o céu;
Se seu desejo for dançar com os ventos,
Sinta a leve brisa que te beija.
Mas se o sonho que você quer realizar
For ser feliz por amar e ser amada,
Corra em minha direção.
Prometo secar suas lagrimas,
Rir seus risos, te levar às estrelas.
Dançaremos nos ventos!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Na noite


Na noite nossos corpos fervem,
Num desejo incontrolável de possessão;
Numa necessidade enorme de caricias,
Em movimentos desconexos dos corpos.

Na noite nossas mãos dançam
Pelos nossos corpos ardentes.
Causando arrepios...
Emitindo sons selvagens...

Na noite nossos corações pulsam
De uma forma suave;
De uma forma rítmica,
Acompanhando o compasso de nossos toques.

Na noite nossos olhos sorriem;
Nossas bocas sentem;
Nossa pele chora;
E nossa alma fantasia.

sábado, 10 de abril de 2010

Olhar perdido


Sentado na varanda de minha casa
Vejo a tarde se tornando noite.
Sei que o vento que sinto
Beijou sua face,
Pois ele sopra seu perfume
Sobre esse corpo desfalecido.
O sol que aqueceu o dia,
Sei que irradiou sua beleza,
Pois vejo suas expressões na aurora
Dessa tarde, antes calorosa,
Agora tênue e fria.
A lua que se assanha no céu
Sei que não voltará a ser tão bela
Quanto na noite que nos amamos.
Os sorrisos que sumiram de meu rosto
Sei que estão perdidos nos seus lábios.
Tentando te encontrar
Não vago por terra alguma,
Não venço abismos nem fronteiras,
Não sofro nem choro,
Apenas fecho os olhos.
Basta isso para te ver
E sentir-me extasiado por sua beleza.
Sinto falta de sua presença,
De suas mãos macias entre meus cabelos,
De suas palavras meigas ao meu ouvido,
De sua pele quente junto a minha,
De seu olhar perdido nos meus.

domingo, 4 de abril de 2010

Lágrimas rubras


Hoje uma saudade incomum maltratou meu espírito.
Senti que meu sangue congelava,
Minha carne endurecia,
Meu peito parecia estar se dilacerando.
Tremia sob um sol de verão.
Um mal estar foi tomando conta de mim.
E aos poucos eu não sabia o que acontecia.
Sentia-me mal!
Gotas de sangue pingavam de meus olhos,
A sua ausência já destruiu minhas veias e coração.
Minhas lagrimas estão rubras,
E minha paz, negra.
Por que naquele ultimo abraço
Você levou minha alma junto?
Hoje, olhando para a carta que você escreveu,
Não sei o que sinto.
Não é aquele sentimento de antes,
Mas também não é total indiferença.
Hoje, vendo o que suas palavras dizem,
Percebo que você sempre viveu em entrelinhas.
Hoje, ouvindo você dizer que quer voltar,
Que está arrependida de ter partido,
Sinto que seu amor nunca me fez falta.
Hoje, tendo você de volta,
Percebo que a saudade que senti
Não foi dos seus carinhos,
Foi do seu corpo...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Olhos


Os olhos são tradutores.
Traduzem o sorriso que não cabem nos lábios;
Traduzem os sentimentos que palavras não conseguem;
Traduzem a dor existente num coração magoado.
Os olhos são traidores.
Dizem sim quando a boca diz não,
Persiste quando o corpo cai,
Segue quando a alma desiste,
Revela o que se luta para esconder.
Um olhar tem o poder
De criar ou destruir um amor.
Não existe mentira
Por mais bem contada
Que não seja descoberta
Quando se observa os olhos da pessoa.
Os olhos não mentem, enganam ou escondem.
Os olhos são o que de mais puro
Alguém pode ter.
Então não me diga que você está bem
Enquanto seus olhos se afogam em lagrimas,
Não diga que seu coração está inteiro
Enquanto vejo seus pedaços em suas palavras,
Não me diga que está feliz,
Enquanto seu corpo chama pelo meu.