quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


Certa vez deparei-me com um homem, um homem que mais parecia um animal selvagem. Suas vestes rasgadas pareciam ter sido vítimas de uma feroz besta. Cicatrizes tomavam todo o seu corpo que era todo manchas de sangue e sujeira. Seu ar era fúnebre e me fazia pensar em mortes, cemitérios e solidão. Seus olhos, fundos e vazios, transmitiam dor. Sua alma parecia ter fugido daquele invólucro acabado e surrado. Sua imagem poderia ser usada para retratar o que se torna uma pessoa que já não tem mais porque viver, mas insiste em continuar viva. Seu semblante me levou supor que um dia, uma longínqua época, fora alguém feliz, que tinha poder sobre as pessoas e que conseguia realizar suas vontades apenas com olhares e meia dúzia de palavras bem colocadas. Cheguei a pressupor que aquela terrível criatura oca por dentro, viveu um grande amor, pois somente o amor, e os amantes hão de concordar comigo, é capaz de destruís e remendar um coração tantas vezes quanto for possível, e alguém com tantos remendos internos passa a ser desacreditado das coisas da vida. Parece que nada mais lhe chama atenção e que já não se importa com qualquer coisa que seja. Diria até que já pensou em suicídio algumas vezes. Tinha uma tremedeira nas mãos que supus causada por fome. Ele era todo pelos e pele, não parecia possuir carne e menos ainda músculos. Seus ossos eram finos, ou pelo menos era essa a impressão que suas roupas, alguns números maior, passavam para quem olhasse. Suas rugas indicavam uns quarenta anos, embora seu aspecto geral pudesse envelhecê-lo uns anos. Ele estava sentado no banco de uma grande praça ao lado de uma magnífica e gigantesca igreja. No centro havia um obelisco feito de mármore branco que subia aos céus alcançando uns vinte metros ou mais, rodeado por um jardim bem cuidado e florido. Toda aquela imagem de leveza transmitida pelo ambiente contrastava de modo curioso com o pobre cidadão sentado ali, alheio a todas as perturbações que o mundo oferecia. Tive um pouco de inveja dele, da sua tranqüilidade e da sua paz. Apesar dos inúmeros infortúnios que a vida parecia ter lhe imposto, ele era dono de si, não necessitava seguir regra ou padrão nenhum. Estava livre da prisão que faz do mundo um lugar de tolos. Por um momento, desejei ser ele.

4 comentários:

Kaline disse...

o texto inspirado =)
eu nem disse... mas foi bom ver sua imaginação nesse texto.
só n queria q vc desejasse ser ele =)
te adoro, iuri!

Kakah disse...

Adorei o jeito com que vc descreveu tudo. bem detalhado. gostoso de ler :D
Gostei mt! (y)

BJinhuss
mo tempo que não passo aqui! :P

pedro disse...

Achei bonita a dignidade da descrição de uma figura que, para muitos, não a transmite. Muito bem escrito, texto muito interessante. Acho que virei fã daqui (:

Bernadete disse...

Achei incrivel sua descrição em detalhes nesse texto =)
Apesar disso, nao queria que vc desejasse isso. Vc pode ter paz e ser dono de si assim, do jeitinho que vc é . Vc tem tanta força e garra dentro de si, basta olhar pra dentro!
Não quero que vc esqueça isso, nunca.

beeeeijo meu anjo :*